Sentados, confortáveis, no
parapeito de um copo de gin tónico, é simples julgar os outros. Senta-mo-nos;
Observamos; Formamos opinião e, por fim, num assomo de justicialismo primário, atiramos a matar, um julgamento sobre os restantes.
Isto anda tudo com os fusíveis queimados!
Reconheço na observação um
cinismo puro e pequeno, como devem ser todos os cinismos de quem procura nos fracassos
alheios, as respostas para os fracassos próprios. É nisso que andamos a viciar-nos.
Andamos a desculpar-nos através dos julgamentos que formamos dos outros. Porque
no fundo dói menos. Mais, achamos que se os outros também falham - e com sorte
falham muito e muitas vezes - isso faz com que sejamos menos culpados. Ficamos
felizes por não sermos os únicos miseráveis afectivos.
Bem-vindos oh desencantados das
vidas afectivamente vazias…
Mas porque nos tornámos tão desgraçadamente
dependentes da desgraça alheia?
Porque, de tão modernos e
desempoeirados que somos, não nos demos conta que ainda ficámos lá atrás, no “para
sempre”. Esse é o conflito dos nossos dias. Durante anos pensámos que o equilíbrio
passava por conviver bem com as consequências das nossas decisões, quando de
facto o equilíbrio passa fazer com que as nossas expectativas não saiam goradas
pela nossa realidade
O “para sempre” dá-nos a
esperança inverosímil da voracidade das paixões de verão, mas mata-nos com a
realidade das noites frias e sós de inverno.
E que realidade é essa?
É aquela que nos estimula todos
os dias a ser melhores, a ter coisas melhores, em não nos deixarmos vencer pelo
conformismo. A ambição pelo que não temos turva-nos a capacidade de olharmos para
o que temos. O parapeito de onde pensamos olhar o mundo é afinal o muro sobre o
qual construímos narrativas de frustração, pelo emprego do outro, pelo carro do
outro, pela casa do outro, pelas férias do outro e, pelas pessoas que
supostamente dormem com o outro. A inveja é tanto maior quanto menor o número
de cavalos que nosso carro tem, ou de quartos a nossa casa possui, ou de milhas
que viajamos por ano. Vivemos numa realidade em que somos aquilo que
conseguimos mostrar. Nada mais. Somos aquilo que conseguimos fazer. Nada menos.
E haverá maior conformismo que esse?
Transformámos as pessoas de que
julgamos gostar em elementos de prova do sucesso, seja lá o que isso for!
Se não conseguimos ter alguém ao
nosso lado, somos nada. Zeros. Vazios. O “Para sempre” não permite olhar para o
outro lado e perceber que uma cama cheia, pode ser afinal a vida mais vazia que
podemos ter.
As nossas relações nascem, vivem
e matamo-las dessa forma. Queremos que tudo corra bem. Que se correrem mal, que
a culpa não seja nossa… ou só nossa. No fim do dia, as relações modernas são um
simplório balanço de culpas. Escondemo-nos no “ambos temos a culpa” ou até num
magnânimo “Todos têm a culpa” para aliviar as nossas próprias penas. No fim,
somos todos uns cobardolas e é mais simples achar que amanhã vamos encontrar
alguém que nos acrescente, quando na verdade buscamos alguém que nos preencha
os vazios. Andamos todos à procura de alguém que nos dê sentido quando nem
sequer paramos para pensar para onde queremos ir. Andamos todos à procura de
algo que nos valide perante quem nos observa do parapeito, quando na verdade
apenas nos andamos a tentar equilibrar em cima do muro e de um lado está o que
queremos e do outro o que nos faz feliz…
Resta saber para que lado do muro
queremos cair, já que saltar está difícil.
Por isso:
Que se foda o “para sempre”!
Viva o “para já”…
Porra!
do vosso
Dumal
Dumal