quarta-feira, 24 de março de 2010

Carta para a minha filha


Lembro-me da primeira vez que te vi.

Estavas deitada na maternidade, com umas horas apenas, de lado virada para o vidro que me separava de ti.

Lembro-me de uns olhos grandes, escuros, que me olhavam (se é que os bebés olha para alguma coisa) e lembro-me de, a meu lado, a tua avó dizer-me:
- È ela...

E eras!

Diz-se que a nossa vida muda quando casamos. É mentira! Ela muda mesmo é quando os filhos nascem. É um antes e um depois. Tudo muda!

Olhei para ti e lembro-me de pensar: - Uau... Agora sou pai... – Foi o momento em que interiorizei que, por um lado o seria para sempre, e que por outro não fazia a mínima ideia do que isso implicava.

Nunca ninguém nos prepara para ser pai. Os outros homens que já são pais há mais tempo, quando sabem que vamos pertencer ao “clube”, só nos dão os parabéns e palmadas nas costas, mas não nos dizem como é

E mesmo que dissessem? Uma coisa é saber o caminho, outra é percorrer o caminho.

Sabes o que foi mais assustador para mim? Foi perceber que tudo o que eu fazia e dizia, podia e era absorvido por ti, tomado com modelo e que iria determinar toda a tua visão do mundo e a forma como te relacionas com ele.


Por isso é que sempre nos esforçamos (eu e a tua mãe) por te dar uma visão o mais larga possível do mundo. Gosto de pensar que te vais lembrar do restaurante árabe ao lado da loja judia em Paris, ou que as múmias são só reis antigos. ( Apesar de achar que a Bela Adormecida ou a Hanna Montana ocupa mais espaço na tua cabeça...)

O mundo é um sitio muito grande e vale bem a pena andarmos nele. Naquilo que poder, vou continuar a ser teu guia. Não sei se sou um bom pai; mas, bolas, juro-te que tento ser um.

Beijo


Martini Man
(No Dia do Pai, a escola da minha filha pediu aos pais para este ano oferecerem alguma cois relacionado com o "ser pai". Eu escrevi-lhe esta carta)